Dia 1 de Agosto de 2008. Pontevedra, Espanha.
Sendo eu um amante de dimensões promíscuas deste género musical, tenho de me concentrar duplamente antes de me pronunciar imparcialmente sobre o concerto e respectivo conteúdo.
Para tal vou precisar de me deslocar ao Café Trimar para beber um café cheio e uma água das pedras antes de dar início à verborreia. É só um segundo.
Pronto, agora que já me concentrei duplamente, quero começar por dizer que as expectativas eram altas. Tinha desbravado o myspace desta banda de Nashville e só o facto de me terem respondido a todos os comentários era um excelente indicador de simpatia. Gosto especialmente de bandas com elementos simpáticos. Se bem que a arrogância, com peso e medida (e com o estilo certo), também tem os seus encantos.
Mas deixemo-nos de ego-divagações e mergulhemos então no produto propriamente dito:
Esta banda, liderada por Leo Black, é do mais “tight” que já presenciei. Leo Black apresenta-se em palco como um MC por excelência, tal como acontecia na maioria das bandas dos anos 70 – de fato e gravata e pleno de liderança rítmica, fazendo todas as apresentações e introduções.
Depois do inevitável instrumental Body Snatcher (que também abre o álbum), surge finalmente “the man that’s been doin’ it since 1961, the one everybody’s been waiting for… Mister Charles Walker”. Dentro de um fato rosa velho, com uma gravata labiríntica de movimentos pendulares, ali estava ele, em carne e osso, o senhor que de facto eu estava à espera.
De início não foi fácil conseguir o envolvimento do público que se espalhava pela Praza de Ferrería, em pleno coração histórico da cidade. Percebia-se que não eram fãs declarados deste tipo de música mas ao final do 3º tema já Charles Walker tinha conseguido arrancar palmas para acompanhar o coro de Own Thing.
O alinhamento do concerto gravitou em redor do recente e primeiro álbum da banda – KABOOM! – mas houve ainda tempo para revisitar clássicos tais como Soul Power, Cold Sweat, I Know You Got Soul, Hung Up dos Salt ou mesmo Summertime. No que toca aos originais de James Brown, posso confirmar que por momentos o Godfather desceu ao palco, tal foi a intensidade da interpretação de C.W. e o poder rítmico da banda. As outras versões foram abordadas com mais liberdade, mas com o mesmo respeito e reverência, o que acabou por resultar em momentos limítrofes da beleza mais genuína – especialmente a versão de Summertime.
Não restam dúvidas que Charles Walker é talhado pelas medidas de James Brown – desde os gritos guturais até às pregações Gospel e aos passos de dança – mas tal não retira um pingo sequer ao seu valor. Antes pelo contrário, ter a capacidade de ser comparado ao New Minister of Super Heavy Heavy Funk só pode ser encarado como um dos mais rasgados elogios.
O mesmo se aplica aos The Dynamites que, tal como JB exigia aos seus músicos, tocam todos os instrumentos como se fossem de percussão. Esse tipo de abordagem atira-os directamente para uma categoria old-school de Deep Funk sem hipótese de resvalar no actual revivalismo Soul Pop. São mais uma das poucas bandas que conseguem reactivar a energia contagiante do Funk mais puro dos anos 70. Não são propriamente inovadores mas também não caem no cliché fácil. São seguríssimos ao vivo – iguais ou ainda melhores que os Dap-Kings de Sharon Jones – e conseguem manter essa solidez durante as quase 2 horas de espectáculo. Talvez por isso não se possa estranhar que tenham sido convidados para abrir uma série de espectáculos dessa mesma senhora, Sharon Jones & The Dap-Kings, na sua tournée dos E.U.A.
O poder interpretativo de Charles Walker é inquestionável e ultrapassa o respeito que a sua idade exige. A sua postura em palco é genuína, não necessita de recorrer a exageros para exprimir as suas emoções. Tudo flui naturalmente.
No final do concerto, já com o público rendido, houve ainda tempo para um encore de cerca de 20 minutos. O primeiro tema é dedicado a Jackie Street, membro da banda recentemente falecido. Depois, já com C.W. de volta, tempo para mais 3 canções, começando por um tema Soul puro e acabando em tom de festa, com um público hipnotizado a obedecer a todas as ordens dos seus mestres.
Foi assim, deliciado, que constatei que as minhas expectativas não estavam erradas.
E para despedida, as palavras de Leo Black: “And please don’t forget, anything you do you gotta DO IT WITH SOUL!”
Fotos cordialmente cedidas por Georgina.
Mais informações sobre a banda AQUI
Sem comentários:
Enviar um comentário